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O domingo começa em Mariana com muita tristeza, incerteza e enfrentando um dos piores desastres ambientais do mundo: duas barragens de rejeitos de mineradora despejaram impiedosamente material equivalente a 257 campos de futebol de lama – não tóxica pelo que se sabe.
O distrito rural e histórico de Bento Rodrigues foi destruído. Dois mortos e 28 desaparecidos, sendo 13 funcionários da mineradora Samarco. Esses números podem crescer, assim como a dor das famílias que perderam tudo – casa, documentos, fotos, animais de estimação, plantas, flores, escola, livros, igreja, bíblia, sua história emotiva.
A lama desce da montanha rica em ouro e minério de ferro, que já foi o centro do Brasil colonial, em direção ao oceano atlântico, usando o Rio Doce. O rastro de destruição vai junto…
Muita gente agora entende porque o estado chama Minas Gerais e a empresa de mineração é a Vale do Rio Doce
Reconstrução – quase impossível
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior, disse ser difícil reconstruir o vilarejo. “É um patrimônio, havia muita história ali. Mas acho difícil que um dia se recupere aquela região”, afirmou. “Vamos cobrar a empresa para fazer tudo para devolver a vida àquelas pessoas.”
Para ter uma ideia de como está o distrito, uma equipe avançada de resgate do Corpo de Bombeiros percorreu a pé o que sobrou do centro de Bento Rodrigues. Com a lama na altura da cintura, o trabalho de um dos agentes era entrar nos locais onde havia casas, agora cobertos por lama, enquanto os outros dois integrantes do grupo faziam e para evitar que o colega ficasse preso no lamaçal.
Solidariedade
Muitas pessoas levaram seus animais de estimação, mas muitos não conseguiram e veterinários voluntários e jipeiros conseguiram resgatar mais de 50 cães e 10 potros que estavam atolados. Muitos animais morreram soterrados. Ninguém pensa nisso, mas nem ratos conseguiram sobreviver. As tocas estão embaixo da lama. Centenas de espécies serão afetadas.
Ainda solidários foram jipeiros que conseguiram chegar em áreas para tentar resgatar pessoas isoladas. Os bombeiros, o exército e os voluntários estão trabalhando sem medo de contaminação. Cada minuto conta para tentar achar sobreviventes. Brava gente brasileira!
A solidariedade mobilizou o cidadão de Mariana e Ouro Preto: roupas, produtos de higiene e limpeza, alimentos, um ombro amigo, um abraço, um grupo de oração. Esse é o verdadeiro Brasil – somos um povo bom, honesto, que compartilha, que ajuda.
Dano Ambiental – incalculável
“O que aconteceu foi uma degradação total pelo rompimento da estrutura vegetativa. Daqui um tempo, o solo vai aproveitar este material que veio com a lama: ferro, sílica, fósforo, manganês, alimentos naturais das plantas. As experiências que temos mostram que, depois de 10, 15 anos, a recuperação da vegetação é quase plena”, explicou o gerente de meio ambiente da Fiemg, Wagner Soares Costa. “O que pode acontecer é que algumas espécies tenham sensibilidade maior, sendo extintas naquela região.”
Para o geólogo Allaoua Saadi, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG, o tempo de regeneração é difícil de determinar. “São muitos fatores envolvidos. Temos a questão da natureza e da sociedade, que caminham juntas. Leitos e margens dos rios foram afetados e cada um vai ter uma reação diferente. A gente só vai saber quando tiver o à área”, afirmou. “Do ponto de vista social, a questão também é complexa: essas pessoas vão querer continuar vivendo lá? Fechar a mina é impensável, pois sabemos o impacto econômico”, completou.
E como a lama está descendo para o mar, antes de chegar no Espírito Santo, na vila de Regência, em Linhares, o Projeto Tamar começou a remover os ninhos de tartarugas depositados próximos à foz do rio, além disso a Prefeitura de Linhares, vai abrir a boca da barra do rio para que a lama chegue mais rápida no mar, onde é melhor diluída. A barragem terá cerca de 20 metros de largura e 2 de altura. O objetivo é impedir que o Rio Doce jogue água suja de lama no Rio Pequeno. O município informou que será usada areia na obra porque a própria natureza vai se encarregar de dissipar o material com o tempo.

Marco da Mineração e Leis Ambientais
Há três semanas da COP-21, reunião de lideres mundiais para discutir a diminuição dos gases de efeito estufa, deparamos com um acidente que proporciona danos ambientais ainda incalculáveis.
Ainda nesse sábado, não foi descartado que mais uma barragem pudesse romper. A vigilância no local é grande e algumas medidas foram tomadas, como colocar avisos sonoros para evacuação. O que fazer? Rezar? Nada… seguir leis ambientais.
Técnicos querem discutir melhor o Marco Regulatório da Mineração, que voltou ao Congresso Nacional.
Agora é recomeçar, com mais respeito à natureza e mais responsabilidade.