Agricultores orgânicos tentam se reerguer após tragédia em Brumadinho 3n3j71

(Foto: Divulgação/ Epamig)

Agricultores orgânicos e agroecológicos que vivem em Brumadinho (MG) ainda tentam recuperar o seu negócio dois anos após o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão da mineradora Vale. 6b475w

Perda de produção, falta de meios para escoar os alimentos e o estigma de contaminação por metais pesados impedem que a vida dos produtores volte ao normal. “ou uma reportagem na televisão que orientava a população a não consumir nenhum produto in natura da região de Brumadinho e criou esse estigma de que todo produto que saia daqui tinha sido contaminado”, conta o agricultor e biólogo Adalto Luiz Ribeiro.

“As pessoas começaram a questionar com as imagens e os discursos de que há contaminação na água, no solo e no ar, cria-se uma certa rejeição aos produtos que são produzidos aqui”, comentou a agricultora Valéria Carneiro.

O rompimento da barragem liberou mais de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Segundo a prefeitura de Brumadinho, 296 hectares de plantio foram afetados diretamente pelo material. Todas as propriedades atingidas eram de olericultura convencional.

Os agricultores de orgânicos e agroecológicos investiram em análises na água das suas propriedades para comprovar que não há contaminação. O recurso hídrico usado nas produções de Adalto, Valéria e das outras 18 famílias que pertencem ao Assentamento Pastorinhas vem de outros córregos ou poços artesianos sem relação com o Rio Paraopeba e longe da área atingida pela lama.

Mas as iniciativas são de curto alcance. Na propriedade de Valéria, por exemplo, houve uma redução de 60% na produção de hortaliças. “Tivemos que reduzir [a quantidade cultivada] porque toda vez que você produz e não comercializa, fica sem capital para fomentar o próximo plantio”, explica a agricultora.

A pandemia de Covid-19 retrocedeu os esforços feitos pelos agricultores. Muitos consumidores voltaram a ter receio de comprar alimentos por causa do vírus, outras doenças respiratórias e a possível presença de partículas que vieram dos rejeitos da barragem.

A maior parte da produção de 2020, que seria destinada ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), foi perdida com o fechamento das escolas. O restante da produção foi vendida através de cestas de alimentos e entregas em casa. Mesmo assim, o volume de vendas não chega perto do que era vendido antes da barragem se romper.

A pandemia também interrompeu o processo de certificação orgânica do Assentamento, que deveria ter sido concluída no ano ado.

Inércia das autoridades e da Vale 6a6b6w

Os produtores criticam a falta de soluções e medidas voltadas para a agricultura familiar de Brumadinho. “Em 2 anos da tragédia, a agricultura foi jogada ao relento. Não houve nenhuma tratativa ou audiência para discutir a questão dos agricultores da região de Brumadinho e da bacia do Paraopeba”, afirma Carneiro.

A agricultora tem procurado as instituições de justiça para que as análises que mostram que não há contaminação sejam divulgadas para a população. Atualmente, existem algumas ações em andamento voltadas para a agricultura familiar da região. Mas a maioria ainda está no campo do diagnóstico.

“Não tem nenhuma ação imediata. Uma das coisas que a gente tem pedido muito é que a empresa [Vale] disponibilize e publique as análises mostrando que não há contaminação para que o consumidor volte a ter confiança nos nossos produtos”, disse. “Até hoje, não foi feita nenhuma peça publicitária pela Vale falando sobre isso. Ela faz para o turismo e para as outras áreas [econômicas] e não para a agricultura. Então fica a imagem da lama ando em cima da área de produção”.

“Primeiro vem o o interrompido pela lama, logo depois o preconceito e o medo dos consumidores de contaminação dos produtos. Foi uma opção de vida que eu fiz e eu quero voltar [a ter uma vida normal]”, desabafou Carneiro.

Outro lado 2s546t

Procurada pela reportagem, a Vale afirmou que “apoia a agricultura de base familiar em Brumadinho e a região afetada pelo rompimento com ações de fomento econômico”.

Em agosto de 2020, a mineradora lançou o Programa de Fomento à Agricultura, que incentiva o desenvolvimento da atividade rural e a produção agroecológica com foco em horticultura, além de criar um processo intensivo de rastreamento da produção. Também está previsto o desenvolvimento de código de barras, marcas, embalagens apropriadas e de uma marca para o programa.

Segundo a mineradora, “especialistas da Vale já visitaram a maioria das propriedades agrícolas de Brumadinho e região, sendo que mais de 50% deles já aderiram à iniciativa e aram a receber visitas regulares dos técnicos em pouco mais de quatro meses”.

“O Programa de Fomento à Agricultura considera que devemos prezar a agricultura, especialmente a de base familiar, sendo ela um importante setor econômico para a promoção do desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida”, pontuou Flávia Soares, gerente de fomento econômico da Vale.